Megaoperação no Rio: imagens inéditas mostram criminosos fortemente armados, rendição de suspeitos e resgate de policiais feridos
02/11/2025
(Foto: Reprodução) Operação mais letal do Rio de Janeiro
Imagens exclusivas exibidas pelo Fantástico neste domingo (2) mostram criminosos fortemente armados aguardando a chegada da polícia no alto do morro durante a megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro na última semana.
Ainda era de madrugada de terça-feira, 28 de outubro, quando 2.500 policiais civis e militares chegaram aos complexos da Penha e do Alemão. A medida que os agentes avançam, o tiroteio se intensifica.
Imagens exclusivas feitas pela inteligência da polícia mostram os bandidos fortemente armados reunidos bem no alto do morro. Quase todos vestem roupas pretas ou camufladas. E à medida que o tiroteio avança, eles correm para se esconder no topo da mata da Serra da Misericórdia.
Enquanto os bandidos fogem, a polícia avança por várias entradas dos complexos. Equipes do BOPE, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar, entraram pelo Complexo do Alemão e fizeram uma barreira na mata que dá acesso ao Complexo da Penha. O Batalhão de Choque entrou pela Vila Cruzeiro, uma das favelas do Complexo da Penha, e do outro lado entraram os agentes da Polícia Civil.
Juntos com esses agentes, estavam Marcello Dórea e Jadson Marques. Eles são repórteres cinematográficos independentes que se especializaram na cobertura de operações policiais no Rio de Janeiro.
"A polícia ia progredindo e tiro por tudo que é lado. Nunca vi tanto tiro na minha vida", afirma Marcello.
Jadson acompanhou um dos momentos mais dramáticos da operação. Quando os policiais civis tentavam resgatar um colega, o delegado Bernardo Leal, baleado na perna. Os agentes precisaram quebrar a parede de uma casa, já que era impossível sair do beco onde estavam.
“Quando conseguiram tirar o delegado, eles tiveram que improvisar um pedaço de madeira, amarrar um tipo de tipoia, que eles dão o nome, na perna, para poder tentar amenizar o ferimento. E mesmo assim, os tiros não paravam, continuavam os tiros, no meio do resgate ainda”, conta Jadson.
Os agentes colocaram o delegado em uma moto para levá-lo para o socorro.
Enquanto isso, do outro lado, no alto do Complexo da Penha, o drone da polícia registrou mais um confronto. Um grupo de seis policiais chegou ao início da mata. Eles se aproximaram e, de repente, pareceram se deparar com um grupo de bandidos, sendo atacados com dezenas de tiros. Dois policiais caíram no chão e se arrastaram para se proteger; um deles foi ferido na mão e o outro na barriga, chamando reforço por telefone.
Um outro agente, Rodrigo Cabral, chegou para socorrer um colega. Segundos depois de entrar na mata, eles foram atacados novamente, e Rodrigo foi baleado na cabeça. Ele só foi resgatado quando policiais do BOPE conseguiram chegar rastejando até o corpo. O resgate foi difícil, porque muito perto da equipe havia criminosos escondidos e atacando os policiais. Rodrigo morreu na hora.
Imagens mostra resgate de delegado durante operação
Reprodução/TV Globo
Rendição
Já passava das duas da tarde quando a equipe de policiais que Jadson acompanhava chegou a uma casa onde um grupo de criminosos estava escondido.
“Os policiais do Choque descobriram que eles estavam ali escondidos e negociaram para se entregar. Eles não queriam se entregar. Eu fui lá e conversei um pouco com eles: ‘irmão, eu sou jornalista, estou aqui, vou registrar tudo, pode se entregar’. Aí eles, sim, se entregaram. Eles começaram a sair de um a um”, conta Jadson.
Outro vídeo, gravado pelos criminosos, mostra o momento da rendição:
“Nós vai descer. Qual é, rapaziada, um atrás do outro, ninguém com nada. Tá geral sem camisa, pegou a visão? Tá geral sem camisa, nós vai descer aqui devagar, hein?! Sem esculacho, mano, vai sair geral. Sem esculacho”, diz um homem.
Segundo a polícia, 26 pessoas foram presas nessa casa.
26 pessoas foram presas em uma só casa durante a operação
Reprodução/Fantástico
Quase no fim da tarde, Jadson e Marcelo deixaram a região com as equipes que acompanhavam. Enquanto isso, o conflito continuava na mata, no alto do Complexo, na Serra da Misericórdia, onde ocorreu o confronto mais violento da operação. A polícia conseguiu cercar os bandidos. Foi ali o maior número de mortes.
Os impactos da ação
A reação do tráfico foi para as ruas, e o Rio de Janeiro parou. A população tentou chegar o quanto antes em casa. Transportes públicos ficaram lotados e milhares de pessoas voltaram a pé.
Foram cerca de 18 horas de operação, que se estenderam pela noite. A última imagem, feita por um morador, mostra dois blindados deixando a favela por volta de 22h.
Mas o que aconteceu ali só seria visto no dia seguinte. Na manhã de quarta-feira, moradores se reuniram na Praça São Lucas, na região do Complexo da Penha, trazendo dezenas de corpos encontrados na mata durante a madrugada — uma cena que marca para sempre a história da cidade.
Moradores levaram corpos da mata até uma praça
Reprodução/Fantástico
No total, 121 pessoas foram mortas. Entre elas, 115 já foram identificadas, e 88 tinham anotações criminais e 66 eram de outros estados. Entre os mortos, quatro eram policiais: dois civis e dois militares.
O inspetor Marcos Vinícius Cardoso de Carvalho, de 51 anos;
Os sargentos da tropa de elite da Polícia Militar Cleiton Serafim Gonçalves, de 42 anos, e Heber Carvalho da Fonseca, de 39;
O agente Rodrigo Velloso Cabral, de 34 anos, que havia se formado há apenas 40 dias.
Outros 15 policiais ficaram feridos, três em estado gravíssimo, entre eles o delegado adjunto da Delegacia de Repressão a Entorpecentes Bernardo Leal, que teve parte da perna amputada.
Quatro pessoas foram atingidas por balas perdidas. Um homem em situação de rua e outro que estava em um ferro-velho estão internados. Uma mulher foi ferida dentro de uma academia em um bairro próximo e já recebeu alta. O mototaxista João Paulo contou que foi baleado no pé enquanto trabalhava.
O foco principal da ação e liderança principal do Comando Vermelho, Doca, não foi encontrado.
O que disseram as autoridades
Em entrevista para o Fantástico, o governador Cláudio Castro aprovou o resultado da operação:
“Operação necessária. Operação necessária para combater a criminalidade, para acabar com o terror que acontece na vida das pessoas todo dia. Ela foi essencialmente necessária”, afirmou.
Questionado sobre mais de 100 corpos encontrados na mata, o governador disse:
“113 presos se renderam, tão presos. Vão responder o devido processo legal. Quem quis ir para a mata, quem quis enfrentar, encontrou de frente as duas forças mais bem preparadas do Brasil, o BOPE e a Core", disse.
O ministro da Justiça veio ao Rio para se reunir com autoridades estaduais. Ricardo Lewandowski e o governador Cláudio Castro anunciaram a criação do Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado, com o objetivo de compartilhar informações e promover ações integradas entre as forças de segurança.
“Nós vamos conjugar as forças federais com as forças estaduais para resolver rapidamente, celeremente, os problemas com os quais nos deparamos para a solução dessa crise", disse Lewandowski.
Na quinta-feira, Cláudio Castro se reuniu com outros cinco governadores para definir estratégias de combate ao crime organizado e cooperação entre os estados.
Na sexta, o governo federal enviou ao Congresso um projeto que endurece as penas de integrantes de organizações criminosas.
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