Como foi a última grande intervenção militar dos EUA na América Latina - e como se compara à situação atual na Venezuela

  • 21/12/2025
(Foto: Reprodução)
Trump fala da possibilidade de guerra na Venezuela A crescente tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela provocou a maior mobilização militar americana no Caribe desde o fim da Guerra Fria. ✅ Siga o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp A última vez que os Estados Unidos enviaram tantos navios de guerra para a região foi em 1989, quando derrubaram o presidente do Panamá, Manuel Noriega, a quem acusavam de narcotráfico. No entanto, há mais diferenças do que semelhanças entre aquele momento e o atual. Soldados americanos durante invasão do Panamá, em 1989. Getty Images via BBC Em 16 de dezembro de 1989, o tenente da Marinha dos Estados Unidos Robert Paz estava no banco traseiro de um Chevrolet Impala, a caminho do Hotel Marriott, na Cidade do Panamá, para jantar, justamente quando as tensões entre seu país e o líder panamenho se aproximavam de um ponto crítico. Quando o carro que transportava quatro militares americanos destacados no país chegou a um posto de controle das Forças de Defesa do Panamá, seis soldados cercaram o veículo. Após um desentendimento, os panamenhos abriram fogo enquanto o carro se afastava. Paz morreu no incidente, e sua morte desencadeou a invasão americana do Panamá quatro dias depois, em 20 de dezembro. Essa continua sendo a última grande incursão dos Estados Unidos em solo estrangeiro no continente americano. O porta-aviões USS Gerald Ford foi enviado ao Caribe. Reuters via BBC Washington batizou a operação de Operação Justa Causa e mobilizou cerca de 30 mil soldados americanos. Forçado a deixar o poder, Noriega foi levado para Miami para enfrentar um julgamento por acusações de narcotráfico. A ONU estima que cerca de 500 civis panamenhos morreram na invasão. Os Estados Unidos afirmam que foram muito menos, enquanto críticos dizem que o número foi muito maior. Semelhanças e diferenças A invasão do Panamá também foi a última vez que houve um grande desdobramento militar dos Estados Unidos no Caribe em um nível semelhante ao que estamos vendo agora nas águas ao redor da Venezuela. Os paralelos entre os dois momentos são notáveis, mas as diferenças também o são. Ainda se discute quantos panamenhos morreram. Getty Images via BBC Em primeiro lugar, as semelhanças. Embora separados por várias décadas, em ambos os casos uma crescente guerra de palavras entre Washington e um homem forte latino-americano levou, após anos de inimizade, a um importante desdobramento militar americano na região. Em ambos os casos, Washington acusou um governante latino-americano de envolvimento pessoal com o narcotráfico, o que aumentou a pressão interna sobre um presidente sitiado. Tanto no caso de Noriega quanto no do presidente venezuelano Nicolás Maduro, o argumento central do governo dos Estados Unidos é que eles e seus governos traficaram drogas. Noriega se entregou às forças americanas no Panamá e foi enviado aos EUA Reuters Em última instância, a premissa de que o líder rival é, em essência, um narcotraficante tornou-se a justificativa que Washington apresentou ao público americano para todos os passos seguintes. Ambos os países também têm enorme importância estratégica — o Canal do Panamá e as vastas reservas de petróleo da Venezuela —, o que eleva consideravelmente o que está em jogo. No entanto, as diferenças também são marcantes. A Guerra Fria e o século 21 são contextos muito distintos, e George H. W. Bush, presidente dos Estados Unidos em 1989, e Donald Trump são líderes bastante diferentes. Noriega cooperava com a CIA havia muitos anos e acabou sendo condenado com base em provas irrefutáveis, que iam desde registros financeiros até o testemunho de homens que realizaram voos de drogas ou lavaram dinheiro do narcotráfico no Panamá para o Cartel de Medellín, do colombiano Pablo Escobar. Inclusive, um dos principais líderes do cartel acusou Noriega de estar pessoalmente envolvido no comércio ilegal. No caso de Maduro, o governo Trump estabelece um vínculo direto entre os barcos atingidos em ataques aéreos letais no Caribe e o próprio presidente venezuelano. Washington acusa Maduro de chefiar o Cartel de los Soles, um grupo que supostamente seria composto por membros e ex-membros da cúpula militar venezuelana. Mas muitos analistas da guerra às drogas questionam se o Cartel de los Soles é um grupo criminoso formal ou uma aliança flexível de autoridades corruptas que enriqueceram com o contrabando de drogas e recursos naturais por meio dos portos venezuelanos. Por sua vez, Maduro e sua administração negam a existência de tal cartel, classificando-o como uma "narrativa" sem fundamento difundida por Washington para retirá-los do poder. Maduro diz que os EUA querem retirá-lo do poder. REUTERS/Maxwell Briceno 'Círculo de comparsas' "De repente, desenterraram uma coisa que eles chamam de Cartel de los Soles, que jamais conseguiram comprovar, porque não existe", disse o poderoso ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello. "É uma invenção imperialista", afirmou Cabello no mês passado. Existe, no entanto, evidência de narcotráfico dentro da família presidencial na Venezuela. Dois dos sobrinhos por afinidade de Maduro foram presos no Haiti em uma operação encoberta da Administração para o Controle de Drogas dos Estados Unidos (DEA) em 2015. Os filhos da irmã da esposa de Maduro foram capturados ao tentar contrabandear 800 kg de cocaína para os Estados Unidos. Desde então conhecidos como os "narcosobrinhos", Francisco Flores de Freitas e Efraín Antonio Campo Flores passaram vários anos em uma prisão americana antes de serem devolvidos à Venezuela em 2022 como parte de uma troca de prisioneiros com o governo Biden. A administração Trump impôs agora novas sanções contra os dois, juntamente com um terceiro sobrinho, Carlos Erik Malpica Flores. Ao anunciar as sanções, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, disse: "Nicolás Maduro e seus cúmplices criminosos na Venezuela estão inundando os Estados Unidos com drogas que estão envenenando o povo americano." "O Tesouro responsabiliza o regime e seu círculo de comparsas e empresas por seus crimes contínuos", acrescentou. "Círculo de comparsas" soa como o tipo de linguagem que Washington usava para descrever o governo de Noriega na década de 1980. Um relatório do subcomitê do Senado dos Estados Unidos da época o classificou como "a primeira narcocleptocracia do hemisfério". Avançando 36 anos, o pilar central da estratégia da administração Trump contra Maduro baseia-se no uso do termo "narcoterrorismo". Trata-se de um conceito controverso devido ao amplo alcance de sua definição legal. Já em 1987, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos definiu o narcoterrorismo como "a participação de organizações terroristas e grupos insurgentes no narcotráfico", o que, segundo destacou, "tornou-se um problema com implicações internacionais". A questão, no contexto venezuelano, é a base legal, à luz do direito internacional, para as ações mais recentes de Washington, que afirma ter como objetivo combater o "narcoterrorismo" nas Américas. A administração Trump afirmou que agora está envolvida em um "conflito armado não internacional" com os cartéis de drogas e, com base nisso, justificou seus ataques contra supostas embarcações do narcotráfico no Caribe. Imagem mostra ataque dos EUA contra barco no Caribe Governo dos EUA Ataques polêmicos O Pentágono sustenta que as embarcações são alvos legítimos, de acordo com as regras de enfrentamento. No entanto, nos últimos dias surgiram sérias dúvidas sobre um segundo ataque contra um suposto "narcobarco" em 2 de setembro, no qual morreram dois sobreviventes de um ataque inicial. O governo Trump defendeu-se energicamente das acusações de que as mortes no segundo ataque constituíram execuções extrajudiciais. Ainda assim, o problema não desapareceu, tampouco os pedidos para que sejam tornadas públicas as imagens de vídeo do ataque, vistas recentemente por parlamentares de alto escalão durante uma sessão informativa a portas fechadas para membros do Congresso. Depois de sugerir inicialmente que "não teria nenhum problema" com a divulgação do vídeo do ataque subsequente, Trump afirmou que a decisão cabia ao secretário de Defesa, Pete Hegseth. Até o momento, o Pentágono não publicou o vídeo nem os pareceres jurídicos relacionados ao segundo ataque, mas a Casa Branca insiste que a ação foi realizada "de acordo com a lei dos conflitos armados". As tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela continuam a escalar e a se intensificar, especialmente após a apreensão, por forças americanas, de um petroleiro carregado de petróleo venezuelano. Trump indicou que, depois de os EUA assumirem o controle do espaço aéreo e dos mares ao redor da Venezuela, a única coisa que restaria seria controlar a terra. Muitos ainda se agarram à esperança de que algum tipo de solução negociada seja possível, embora seja difícil imaginar uma que satisfaça tanto Maduro quanto a Casa Branca. No entanto, ao examinar a lição do Panamá, uma coisa permanece clara: embora esse conflito moderno possa ser menos convencional do que a invasão ocorrida no Natal de 1989, a situação explosiva na Venezuela não tem um potencial menor para explodir a qualquer momento, como aconteceu com a morte do tenente Robert Paz no Panamá, e se transformar em algo muito maior.

FONTE: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/12/21/como-foi-a-ultima-grande-intervencao-militar-dos-eua-na-america-latina-e-como-se-compara-a-situacao-atual-na-venezuela.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

No momento todos os nossos apresentadores estão offline, tente novamente mais tarde, obrigado!

Top 5

top1
1. Raridade

Anderson Freire

top2
2. Advogado Fiel

Bruna Karla

top3
3. Casa do pai

Aline Barros

top4
4. Acalma o meu coração

Anderson Freire

top5
5. Ressuscita-me

Aline Barros

Anunciantes