Brasil diz 'deplorar' decisão do governo Netanyahu de suspender entrada de ajuda em Gaza
04/03/2025
(Foto: Reprodução) Suspensão foi anunciada no último domingo, após o fim da primeira fase do acordo de cessar-fogo. Para o Brasil, 'obstrução deliberada' viola direito internacional. O Ministério das Relações Exteriores divulgou nota na qual afirmou que "deplora" a decisão do governo de Israel de suspender a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
A decisão do governo de Benjamin Netanyahu foi anunciada no último domingo (2), após o fim da primeira fase do acordo de cessar-fogo fechado entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que controla o outro lado da fronteira.
Israel interrompe o acesso de ajuda humanitária em Gaza
Conforme a avaliação do governo brasileiro, a "obstrução deliberada" por parte do governo Netanyahu viola o direito internacional.
"O governo brasileiro deplora a decisão israelense de suspender a entrada de ajuda humanitária em Gaza, que exacerba a precária situação humanitária e fragiliza o cessar-fogo em vigor", afirmou o Itamaraty.
Donald Trump insiste em plano para controlar a Faixa de Gaza
"Ao exortar à imediata reversão da medida, o Brasil recorda que Israel tem obrigação — conforme reconhecido pela Corte Internacional de Justiça em suas medidas provisórias de 2024 — de garantir a prestação de serviços básicos essenciais e assistência humanitária à população de Gaza, sem impedimentos. A obstrução deliberada e o uso político da ajuda humanitária constituem grave violação do direito internacional humanitário", acrescentou o Ministério das Relações Exteriores.
Na mesma nota, o governo brasileiro defendeu que as partes busquem o fim do conflito, resultando na retirada das forças israelenses de Gaza, na libertação de todos os reféns e no estabelecimento de mecanismos "robustos" para a entrada de ajuda humanitária "na necessária escala".
Caminhões de ajuda humanitária parados em fila no lado egípcio da fronteira de Rafah, entre o Egito e a Faixa de Gaza, após bloqueio de entrada por Israel em 2 de março de 2025.
AP Photo/Mohamed Arafat
Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em outubro de 2023, o governo brasileiro tem defendido que as partes cheguem a um consenso para permitir um cessar-fogo permanente, além da entrada de ajuda humanitária para os palestinos que vivem em Gaza.
Quando a guerra começou, o país presidia o Conselho de Segurança das Nações Unidas e tentou, sem sucesso, aprovar uma resolução.
Ao longo do último ano, porém, o país perdeu as condições de mediar um eventual acordo, principalmente após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter comparado o que acontece em Gaza ao que o regime nazista de Adolf Hitler fez contra os judeus. O episódio gerou uma crise diplomática entre os dois países.
LEIA TAMBÉM:
Em meio à crise, Itamaraty convoca embaixador de Israel para reunião e manda diplomata brasileiro voltar de Tel Aviv
'Humanidade está falhando com os civis de Gaza', diz Itamaraty em nota após centenas de palestinos mortos em ataque
Além disso, em um contexto em que mais de 47 mil pessoas — incluindo mulheres e crianças inocentes — morreram no conflito, o Brasil também já questionou publicamente os limites éticos e legais das ações militares israelenses em Gaza.
Mesmo assim, as recentes homenagens de Lula às vítimas do Holocausto foram bem recebidas por diplomatas israelenses, que avaliaram ser possível uma reaproximação entre os países, podendo levar o Brasil a ter novamente um embaixador em Tel Aviv.
Saída 'completa' de tropas israelenses
Recentemente, ao discursar em uma reunião de ministros das Relações Exteriores do G20, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, criticou a recente proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar os palestinos da Faixa de Gaza, acrescentando entender que, para o Brasil, são as tropas israelenses que devem deixar a região.
"O Brasil faz um apelo a todas as partes para garantirem a implementação rigorosa do acordo de cessar-fogo e espera que dele resulte a retirada completa das forças israelenses de Gaza, a libertação de todos os reféns e o acesso irrestrito de ajuda humanitária à Faixa", declarou Mauro Vieira na ocasião.
"A defesa da solução de dois estados é ainda mais importante neste momento. Nesse sentido, a ideia proposta recentemente de se expulsar toda a população de Gaza, em desrespeito aos princípios mais fundamentais do direito internacional, é um desdobramento aterrador", acrescentou o chanceler.