'Nossa casa de lata': caminhoneiros que viajavam em família mostram desafios nas estradas
18/09/2025
(Foto: Reprodução) 'Nossa casa de lata': a rotina de caminhoneiros que viajam em família
No Brasil, existem mais de 4 milhões de caminhoneiros, responsáveis por transportar a maioria de todas as mercadorias que circulam pelo país. Entre eles estão Luana Michele Sousa e Lucivaldo Leite de Oliveira. O casal de Guarulhos percorre longas distâncias há oito anos e leva junto a filha Liz, de 4 anos, que acompanha os pais desde os quatro meses de vida. Veja no vídeo acima.
A boleia do caminhão virou lar. O espaço foi adaptado para acomodar a família: o banco do passageiro se transforma em cama improvisada, brinquedos ocupam os cantos e o cinto de segurança, muitas vezes, dá lugar ao conforto.
"Aqui é a nossa casa de lata. Nosso cantinho, nossa casa fora de casa. Algumas pessoas falam que é perigoso. Concordo, tanto para quem está com a família, para quem não está, mas o perigo está em todo lugar, né?", diz Luana.
Vida na estrada com criança
Caminhoneiros que viajavam em família relatam desafios na estrada
O Profissão Repórter acompanhou parte da rotina da família, que no momento seguia de Recife (PE) rumo a Belém (PA), com uma carga de peças para motos.
A viagem de 900 km começou com um café da manhã no Piauí e seguiu com almoço no Maranhão. Mas a pernoite precisou ser feita na beira da estrada, quando a carga rastreada não pode seguir viagem à noite. A menina se diverte com brinquedos, mas a família também enfrenta banhos frios e noites em meio à lama.
"Tem que gostar, se não, não fica", comenta Luana.
Família precisa tomar banho em local na estrada
Reprodução/TV Globo
Luana e o marido revezam na direção para o outro descansar, mas, nem as estradas esburacadas estragam o descanso da pequena Liz, que tranquilamente. No futuro, o casal pretende diminuir as viagens longas para que a filha possa ir à escola.
“A gente vai ter que reorganizar, ficar mais perto de casa ou um caminhão menor”, explica Luana.
Liz brinca na boleia do caminhão
Reprodução/TV Globo
Custos altos e estradas precárias
A vida na estrada é marcada pelos gastos. Só para encher o tanque do caminhão, o casal desembolsou quase R$ 3 mil. Há dois meses, precisaram trocar o motor e contaram com ajuda de uma vaquinha para pagar R$ 76 mil.
Segundo a Confederação Nacional do Transporte, os problemas de pavimentação, sinalização e estrutura em quase 70% das rodovias brasileiras aumentam em 32% os custos de combustível e manutenção.
Durante a viagem pela BR-316, no Maranhão, o casal enfrentou buracos e ainda precisou consertar uma válvula de retorno, o que atrasou a entrega.
“Se estoura um pneu de R$ 3 mil, não sobra nada do frete”, conta Juruna.
Histórias que seguem viagem
Luana também carrega na boleia a lembrança do filho Rian, que morreu aos 13 anos após lutar contra um câncer raro durante a pandemia. A camiseta preferida de Liz tem a foto do irmão.
“Em cada borboleta que vejo, sinto como se fosse um sinal dele”, diz a mãe.
Luana lembra do filho Rian, que morreu aos 13 anos após lutar contra um câncer raro
Reprodução/TV Globo
Lucro apertado
Após dias de viagem, Luana e Juruna conseguiram entregar a carga em Belém. O frete foi de R$ 12,8 mil, mas o lucro ficou em torno de R$ 3,5 mil — valor que deve cobrir apenas o combustível da volta para São Paulo.
Sem encontrar nova carga para retornar, o casal decidiu seguir vazio até Guarulhos.
“Resolvemos ir embora. Lá em casa, Deus abençoa que a gente carrega outro. E assim a gente segue o fluxo, porque o trem está feio para todo lado.”
'Nossa casa de lata': a rotina de caminhoneiros que viajam em família
Reprodução/TV Globo
Veja a íntegra do programa no vídeo abaixo:
Caminhoneiros - Edição de 16/09/2025
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