Frei brasileiro que se encontrou com papa Francisco relata experiência de acompanhar nomeação de Leão XIV: 'A Igreja ainda é viva'
10/05/2025
(Foto: Reprodução) Da Ordem Carmelita, Juliano da Silva, de Sorocaba (SP), já se encontrou pessoalmente com o papa Francisco e esteve na Praça São Pedro, no Vaticano, durante o anúncio do novo pontífice. Frei brasileiro relata experiência de acompanhar nomeação de Leão XIV
O mundo parou na quinta-feira (8), ansioso para ver o momento em que uma fumaça branca sairia de uma pequena chaminé no menor país do mundo. Uma cena que poderia ser comum e corriqueira, se não simbolizasse o início de um novo marco na história da humanidade.
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Pouco depois das 14h, no horário de Brasília, cidadãos do mundo todo presenciaram o anúncio tão aguardado das últimas semanas: Habemus Papam. Robert Francis Presvot foi apresentado como Leão XIV, o mais novo papa da Igreja Católica.
Um momento de muita alegria e entusiasmo para católicos do mundo todo que acompanharam toda a cerimônia há quilômetros de distância. Mas, para quem teve a oportunidade de estar presente, foi uma experiência única e coletiva, como contou ao g1 Juliano da Silva, frei sorocabano da Ordem Carmelita que viu de perto toda a cerimônia de anúncio e apresentação do novo papa.
"O clima era de muita esperança na Igreja, esperança nos jovens. É um clima onde a gente viu que a Igreja ainda é viva e ainda diz uma coisa para o mundo. Então foi esse clima muito bonito, de fraternidade, de Igreja muito viva."
Frei Juliano, junto a outro padre, segura a bandeira do Brasil em frente à Basílica de São Pedro
Juliano da Silva/Arquivo pessoal
Em Roma desde 2017, frei Juliano foi enviado em missão para a cidade pela ordem do Carmo, antiga comunidade católica da qual faz parte, para finalizar a faculdade de teologia e concluir sua formação como padre. Atualmente, é pároco em um bairro da periferia de Roma, na Paróquia Santa Maria Regina Mundi.
Juliano conta que, mesmo morando há oito anos em Roma, e acostumado à presença de turistas em cerimônias da Igreja, se surpreendeu com a quantidade de pessoas que foram até o Vaticano nas últimas semanas. Ele relata que, desde a morte do papa Francisco, o número de fiéis circulando pelos arredores da sede católica tem sido impressionante.
"Foi bonito ver tanta gente, eu não esperava, nem para a despedida do papa Francisco, nem para a eleição do Papa Leão XIV. Foi realmente incrível, eu vivi uma experiência muito forte", conta.
Multidão esperando o anúncio do novo papa em frente à Basílica de São Pedro
Juliano da Silva/Arquivo pessoal
Ele explica que, apesar da expectativa de revelação do novo pontífice, havia a possibilidade de o anúncio ser adiado para segunda-feira (12), mas que, ainda assim, fez questão de ir até a Praça São Pedro na quinta-feira para permanecer em espera, se acomodando no chão da praça, junto a outros fiéis.
Porém, a esperança de um novo papa ser anunciado era tão grande que o frei lembra que até houve um pequeno alarme falso.
"[As pessoas] começaram a gritar. Nós nos assustamos e levantamos achando que era fumaça e não era. Eram as gaivotas. Teve uma que trouxe um filhotinho perto da chaminé e apareceu no telão. Então todo mundo gritou. Era um alarme falso."
Mas, minutos depois, o momento tão esperado chegou. "Depois, todo mundo se sentou de novo. Eu estava de costas para a basílica. E aí, quando começaram a gritar, levantamos todos eufóricos e, quando olhamos a chaminé, estava saindo a fumaça branca."
"E foi em um horário que ninguém esperava, porque já não era o horário previsto para sair. Atrasou. Então ninguém esperava mesmo. Foi bem interessante e surpreendente."
Surgimento da fumaça branca na chaminé da Capela Sistina
Juliano da Silva/Arquivo pessoal
O momento de euforia precedeu quase uma hora de espera até a revelação de quem seria o cardeal escolhido como novo papa. Quando o nome do americano Robert Prevost foi anunciado, assim como para a grande maioria dos que acompanhavam o momento, o anúncio também foi recebido com surpresa pelo frei.
"Eu mesmo não sabia quem era, daí eu falei: 'quem será, né?'. E foi uma grande surpresa. Primeiro pelo nome do cardeal que foi escolhido. Depois pelo nome que ele escolheu [Leão XIV]."
Mas completa que, independentemente da escolha, o sentimento de todos foi um só. "Para todo mundo que estava lá, foi uma alegria muito grande, contagiante, muito bonita."
Encontro com papa Francisco
Frei Juliano em missa ao lado do papa Francisco
Juliano da Silva/Arquivo pessoal
Pela proximidade de seu trabalho com a Santa Sé, o sorocabano viu o papa Francisco diversas vezes. Ele conta que teve três oportunidades de se encontrar mais próximo e conversar com o antigo pontífice.
"O papa Francisco tinha uma atenção muito grande para com quem ele estava conversando. Então, na minha primeira experiência, eu falei com ele [sobre] a minha família. Ele me olhou muito nos olhos e escutou atentamente. Depois, eu pedi um abraço, ele me deu um abraço. [Era algo] que não se pensava na época: abraçar um papa assim, era bem estranho… Todo mundo estava pegando na mão dele e eu pedi um abraço e foi muito bom. É um sinal que eu guardo muito forte dele."
Papa Francisco conversa com frei Juliano olhando nos olhos
Juliano da Silva/Arquivo pessoal
Papa Francisco abençoa família de frei Juliano em foto
Juliano da Silva/Arquivo pessoal
Papa Francisco abraça frei Juliano
Juliano da Silva/Arquivo pessoal
Sobre a possibilidade de conhecer pessoalmente um segundo papa, Juliano explica que há essa possibilidade, mas, pela sua maturidade e experiência, a enxerga com mais serenidade atualmente.
"Quando eu cheguei aqui, tinha essa ansiedade de ver o papa, de ajudar, de estar perto, de falar, e isso passa um pouco, porque a gente mora aqui já há tanto tempo, são oito anos que eu moro aqui. Então passa um pouco dessa vontade de ir atrás, mas acredito que possa acontecer e vai ser um momento muito bonito."
"Até mesmo porque eu sou pároco e talvez tenha encontros com os outros padres, eu o verei muitas vezes. Mas de contato assim, pessoal, de perto, aí é sempre uma surpresa, a gente nunca sabe quando vai acontecer. Mas tem essa expectativa, sim, de encontrar um dia."
Um papa da paz
No Vaticano, Leão XIV celebra primeira missa como papa e diz que a Igreja deve ser farol nas noites escuras do mundo
Reprodução/TV Globo
Para o frei, a expectativa é de que o novo papa seja alguém capaz de criar um diálogo sobre a paz. Ele ressalta as características de simplicidade e proximidade com as pessoas do novo líder católico como sinais que reforçam essa esperança em tempo de transformação real e digital no mundo.
"Eu acho que ele já deu, logo no comecinho, várias indicações que respondem bem a essas expectativas que eu tinha, no caso. Eu espero que seja um papa bom, um papa simpático, que possa acolher o povo e possa também ler os sinais dos tempos atuais, mas sempre ancorado no evangelho, em Jesus Cristo, no anúncio do evangelho, como ele mesmo falou: 'A missão que é levar Jesus Cristo para as pessoas'."
Juliano ainda reforça que, apesar da simplicidade, Leão XIV é um homem forte e muito profundo nas questões teológicas e espirituais e, por isso, muito útil para a Igreja, como líder e pastor.
"Ele até citou Santo Agostinho: 'Com vocês, eu sou cristão. E para vocês, eu sou o bispo. Então eu sou o pastor". E acho que a Igreja pode esperar isso", finaliza o frei.
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