Entenda por que o BC rejeitou a venda do Master para o BRB
04/09/2025
(Foto: Reprodução) Entenda por que o Banco Central rejeitou a venda do Master para o BRB
O Banco Central do Brasil rejeitou a venda do Banco Master ao BRB, o Banco de Brasília.
O negócio havia sido anunciado em março. O BRB, controlado pelo governo do Distrito Federal, compraria o Banco Master. O banco é conhecido por atrair investidores com oferta de rendimentos muito acima da média do mercado. Para isso, destacava que a aplicação era protegida pelo Fundo Garantidor de Crédito - um colchão de recursos dos próprios bancos para assegurar o pagamento de investidores até determinado limite.
O Master enfrenta problemas de liquidez, dificuldades em honrar compromissos. O BRB pretendia incorporar quase R$ 50 bilhões em ativos do Master. Mas, depois de analisar as contas, considerou que parte deles não era de boa qualidade ou era de difícil recuperação. A pedido do Banco Central, o BRB, então, propôs incorporar somente R$ 24 bilhões. Mesmo assim, os ativos remanescentes ainda apresentavam riscos financeiros significativos.
A transação dependia da autorização do Banco Central - que atua como regulador e supervisor do sistema financeiro - e tinha prazo legal de um ano para concluir a análise. Na quarta-feira (3), o Banco Central vetou o negócio. O BC não divulgou as razões, mas o mercado considera que pesaram as dificuldades dos atuais sócios para capitalizar o banco Master e os riscos que essa sociedade poderia trazer à reputação e à administração do BRB. Além disso, o Banco Central tem por obrigação verificar se a operação faz sentido do ponto de vista financeiro. As ações do BRB fecharam esta quinta-feira (4) em baixa de 5,47%.
Em um comunicado aos investidores, divulgado na quarta-feira (3) à noite, o banco defendeu que a transação representa uma oportunidade estratégica com potencial de geração de valor para o BRB, seus clientes, o Distrito Federal e o Sistema Financeiro Nacional; e afirmou que manterá seus acionistas e o mercado informados sobre eventuais desdobramentos.
Entenda por que o Banco Central rejeitou a venda do Master para o BRB
Jornal Nacional/ Reprodução
O Banco Master afirmou que aguarda ter acesso à íntegra do documento para avaliar seus fundamentos e examinar as alternativas cabíveis. Os dois bancos podem pedir que o BC reconsidere a decisão.
A negativa do Banco Central ocorreu um dia depois que líderes de partidos do Centrão, do governo e da oposição pediram urgência na votação de um projeto que dá poderes ao Congresso para demitir diretores do Banco Central. Hoje, essa atribuição é do Presidente da República e apenas em casos específicos com justificativa. O movimento no Congresso Nacional foi visto, pelo mercado financeiro, como uma forma de pressão para que a autoridade monetária aprovasse a operação.
Ex-presidentes do Banco Central avaliam que o projeto ameaça a autonomia da instituição e a estabilidade da economia. Argumentam que a autonomia permite aos diretores do BC tomar decisões regulatórias e de política monetária sem pressões políticas.
“Isso seria um retrocesso tremendo, um sequestro da política monetária, que passaria a ser o elemento de manipulação, normalmente política, de curto prazo para resolver um problema, uma pesquisa de opinião, um troço desses. Ao invés de ter na política monetária um elemento de estabilidade, de consistência, de previsibilidade que faz a economia funcionar melhor. E nós, aqui no Brasil, conhecemos muito bem o desastre que sempre foi ter um Banco Central que está ali meio perdido. Infelizmente, a palavra que a gente tem que usar mesmo, e meio politizado”, diz Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central.
Armínio Fraga alerta que a proposta, se aprovada, afetaria a credibilidade do sistema financeiro:
“Os riscos que advêm de uma perda de autonomia do Banco Central são riscos que vão surgir à medida em que o Banco Central aja pensando em questões de curto prazo, que não são de interesse geral da população. É a saúde de um banco, é uma eleição. E isso vai além do que seria, vamos dizer, a província da política monetária, porque também afeta a credibilidade do sistema como um todo na medida em que se enxerga, no fundo, os passos que podem não estar saudáveis”.
LEIA TAMBÉM
BRB e Banco Master: relembre os capítulos da operação financeira e entenda por que melou
Banco Central reprova compra do Master pelo BRB