Dia do cuscuz: drive-thru no Recife vende até 50 potes por manhã e conquista quem não abre mão da tradição
19/03/2025
(Foto: Reprodução) Prato é patrimônio imaterial da humanidade. Primas fizeram 'drive-thru' do alimento na Zona Norte do Recife. 'Drive-thru' de cuscuz no Recife
Acervo pessoal
O Dia do Cuscuz é celebrado nesta quarta-feira (19). O prato, que é patrimônio imaterial da humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), é tão popular no Nordeste que, no Recife, tem até mesmo "drive-thru" do alimento, para quem, na correria do dia a dia, não abre mão de saborear a iguaria tão amada.
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A ideia do "drive-thru" veio das primas Ana Paula Andrade e Glícia Correia. Numa calçada na Rua Jerônimo Vilela, no bairro de Campo Grande, Zona Norte da cidade, elas vendem, toda manhã, cerca de 50 potes de cuscuz. O nome do local é "Alzira's Cuscuzeira", homenagem à avó das duas primas.
O cardápio até tem outras opções, como munguzá, mas não é nem de longe o mais procurado por quem passa pelo local. A dupla acorda cedo, e já começa a produção às 3h. Às 5h, as duas já estão com o "drive-thru" a todo vapor, e assim seguem até as 9h30, quando o movimento esfria.
"As pessoas passam, a gente atende e entrega os potes fechados de cuscuz e, para quem quer, um copo de café ou de suco, também em copos fechados. Temos uma mesa e cadeira para quem quiser comer no local, mas a maioria dos clientes está na correria e só paga e leva", contou Ana Paula Andrade.
A ideia do "drive" veio da necessidade, mas se aliou à paixão pelo cuscuz. Ana Paula Andrade trabalhava numa empresa e via as pessoas pedindo comida no trabalho. Pouco antes da pandemia, ela foi demitida, e pensou em vender café da manhã e aproveitar esse mercado junto com a prima.
"Pensei em servir café da manhã já no trajeto das pessoas, e como o cuscuz era tão popular, resolvi fazer isso. O munguzá eu faço à noite, e o cuscuz eu faço de madrugada. Minha prima cozinha muito bem e faz a parte do recheio. O marido dela deixa ela na minha casa e a gente fica aqui até a hora de ir vender", contou Ana Paula.
Imagem de arquivo mostra o 'drive-thru' de cuscuz em 2019
Reprodução/TV Globo
Entre os sabores dos recheios estão frango, carne, linguiça defumada e charque. A variedade de sabores só não é tão grande quanto a de clientes.
"Tem funcionário de fábrica, mecânico, ciclista, pessoas que trabalham em hospital, em ambulância de cidade do interior, motoristas de vans escolares... É sempre o pessoal que sai cedinho para trabalhar. Eu amo cuscuz, e é ele que me sustenta", disse.
Para fazer as quase 50 porções de cuscuz que vendem, Ana Paula e Glícia usam cerca de seis pacotes de fubá. "Houve um tempo em que fornecíamos cuscuz para um rapaz botar no restaurante dele. Nessa época, usávamos até 10 pacotes", afirmou Ana Paula.
Cuscuz no pote vendido em 'drive-thru' no Recife
Reprodução/TV Globo
Origens e cultura
Embora extremamente nordestino, o cuscuz é global. De acordo com o antropólogo da alimentação Bruno Albertim, se sabe que o cuscuz, feito com sorgo, arroz e com sêmola de trigo, como o conhecido cuscuz marroquino, era prato comum na alimentação de povos mouros, oriundos do norte do continente africano, e foi por meio deles que o alimento chegou à Europa.
Entre 711 e 1492, a Península Ibérica, onde fica Portugal, foi dominada pelos povos mouros, o que fez com que os colonizadores tivessem o cuscuz como parte de sua alimentação. Mas é no Brasil que ele começa a ser feito com milho, que tem origem americana.
"O Brasil não produzia trigo, até hoje não é autônomo na produção de trigo, mas dispunha do milho, que assim como a mandioca eram de predileção entre as populações originárias no Brasil. [...] O milho se mostrou muito eficiente para essa técnica consagrada do cuscuz. Você seca o milho, rala ele, depois umedece essa farinha e ela incha, assim como acontece com a sêmola de trigo", explicou.
Devido à abundância dos ingredientes, o cuscuz, no Nordeste brasileiro, logo se tornou integrante basilar da alimentação, algo equivalente ao pão francês.
Não por acaso, em 2002, as farinhas de trigo e de milho foram escolhidas para serem fortificadas com ferro e ácido fólico, por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da portaria 344/2002.
O enriquecimento dessas farinhas foi uma política pública adotada para combater a anemia por deficiência de ferro e má formação de fetos por falta de ácido fólico. Nesse segundo caso, por exemplo, houve redução de 30% na prevalência de doenças do tubo neural em bebês, segundo dados do Ministério da Saúde.
Espaço Pernambuco conta histórias de apaixonados por cuscuz
Aprenda a fazer
Confira, abaixo, como fazer cuscuz:
Ingredientes
2 xícaras de chá de flocão;
1 xícara de chá de água;
Uma colher de chá de sal, ou a gosto.
Modo de preparo
Misture bem os ingredientes e deixe descansar por dez minutos;
Coloque água até metade da parte inferior da cuscuzeira;
Coloque a massa na parte superior e tampe;
Leve ao fogo por dez minutos;
Desligue o fogo e deixe descansar por dez minutos;
Sirva e se delicie.
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